Esta mulher corajosa prova que tradições podem (e devem!) ser rompidas

Conheça Theresa Kachindamoto. Uma líder africana contra o abuso infantil.

Theresa Kachindamoto é, antes de tudo, uma mulher de coragem.

Após anos trabalhando como secretária em uma universidade, ela recebeu um chamado dos líderes de seu povo. Liderar estava em seu sangue e em sua família.

E, apesar de não ter vontade de voltar à sua terra natal, ela não teve como recusar o convite. Tinha sido escolhida por seus pares por ser alguém que era boa com as pessoas.

Assim, ela vestiu os trajes tradicionais e assumiu seu lugar.

E não esperava encontrar o que encontrou: meninas por volta dos doze anos casadas com rapazes adolescentes e já com filhos nos braços.

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Tradições de abuso sexual

Infelizmente, o casamento infantil é uma realidade em muitos países africanos. Um misto de tradições e pobreza que levam a um ciclo de abuso sexual e falta de perspectiva, já que as crianças são forçadas pelos pais a deixarem a escola para se casarem.

O Malaui é um dos campeões mundiais do ranking de casamentos infantis.

Estas tradições atingem principalmente meninas, que muitas vezes passam por rituais de iniciação sexual com homens mais velhos, designados especialmente para isso; quando não são utilizadas como “remédio”: muitos acreditam que ter relações sexuais com meninas virgens pode curar doenças!

Existem até mesmo campos com uma espécie de treinamento sexual, onde essas meninas aprendem a dar prazer e a seduzir um homem. Algumas voltam intocadas; outras se “graduam” tendo relações com seu professor.

Quando retornam a suas famílias, são entregues aos “hyenas” – homens contratados para tirar a virgindade delas – ou vendidas a maridos em potencial que irão engravidá-las. Crianças de sete anos ou menos já foram encontradas nesses campos.

Quando as mulheres da família adoecem (uma tia, uma irmã mais velha), não é raro que as meninas sejam levadas a suas casas e assumam as funções daquele lar, inclusive sexualmente.

Uma tradição de abuso sexual cometido por quem deveria proteger essas crianças. E o resultado é catastrófico: a África é conhecida por estar no topo do ranking de casos de AIDS. E, como meninas de 12 anos não tem condições físicas de darem à luz, acabam passando por cesarianas para terem os bebês.

A primeira coisa que Theresa decidiu é que esses casamentos e essas tradições deveriam acabar. E, caso isso não acontecesse, os chefes subordinados a ela seriam demitidos.

Obviamente, ela encontrou muita resistência. Pais que não queriam ou não podiam continuar sustentando suas filhas e acreditavam que era melhor que elas se casassem; tradicionalistas que diziam que ela estava destruindo costumes seculares.

Houve até mesmo ameaças de morte.

Educação e lei contra o casamento infantil

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O combate a esse abuso se torna mais difícil justamente pela resistência da população a abrir mão destas tradições. Mesmo com o governo do Malaui proibindo casamentos antes dos 18 anos (há um projeto de lei que pretende subir essa idade para 21), ainda é complicado fazer a lei ser cumprida. A polícia geralmente diz que não pode intervir, porque a reação pública é muito forte.

Nada disso abalou Theresa.

Ela proibiu os casamentos infantis, baniu os campos de iniciação sexual e mandou as crianças de volta para a escola (muitas vezes, contra a vontade dos pais) e arranjou patrocinadores para manter as famílias enquanto as crianças estudam.

Theresa Kachindamoto conseguiu fazer os 50 líderes subordinados a ela assinarem um acordo para banir estas tradições e desfazerem os casamentos infantis já realizados. Reuniu a comunidade, líderes religiosos, comitês locais e entidades de apoio para fazer cumprir a lei.

Quando descobriu que quatro dos sub-líderes tinham permitido casamentos infantis em suas áreas de atuação, dispensou-os firmemente. Depois de alguns meses, eles voltaram com a notícia de que os casamentos haviam sido desfeitos e ela, então, admitiu-os de volta.

A resistência, segundo ela, ainda é grande. Mas aos poucos, as pessoas estão começando a entender a gravidade da situação. Para ajudar nisso, Theresa promove palestras com mulheres que foram bem-sucedidas em suas carreiras para mostrar que existe um caminho além do casamento infantil e abuso sexual.

Também mantém uma rede de pessoas que informa quando os pais querem tirar as meninas da escola e Kachindamoto pode intervir.

Nos últimos três anos, mais de 850 casamentos infantis foram desfeitos. E ela não pretende parar. Para Theresa, o lugar das crianças é na escola, quer elas queiram, quer não. Com educação, elas poderão ser quem e como quiserem.

E, com um sorriso, Theresa ainda acrescenta:

“De nada adianta reclamar. Serei líder até morrer.”

Alguém duvida da determinação desta mulher? Ela é uma heroína.

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Fonte: aljazeera.com.

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