Se você já conhece os trabalhos da grande escritora Cecília Meireles entende o quanto os escritos dela são impactantes e reflexivos.
É através da leitura que Cecília convoca seus leitores ao aprendizado e experiências de vida com as histórias dos seus personagens.
São nos contos da escritora que você encontrará diversas histórias inspiradores e encontrará reflexões de vida para impactar seus pensamentos.
Te interessa?
Foi pensando nisso que selecionamos um excelente conto de Cecília Meireles para ler e refletir na impactante história sobre as circunstâncias da vida. Confira a seguir o texto na íntegra.
Conto “Edmundo, o Céptico” de Cecília Meireles
Naquele tempo, nós não sabíamos o que fosse cepticismo. Mas Edmundo era céptico. As pessoas aborreciam-se e chamavam-no de teimoso. Era uma grande injustiça e uma definição errada.
Ele queria quebrar com os dentes os caroços de ameixa, para chupar um melzinho que há lá dentro.
As pessoas diziam-lhe que os caroços eram mais duros que os seus dentes. Ele quebrou os dentes com a verificação. Mas verificou. E nós todos aprendemos à sua custa. (O cepticismo também tem o seu valor!)
Disseram-lhe que, mergulhando de cabeça na pipa d’água do quintal, podia morrer afogado. Não se assustou com a ideia da morte: queria saber é se lhe diziam a verdade. E só não morreu porque o jardineiro andava perto.
Na lição de catecismo, quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens deste mundo, ele perguntou lá do fundo da sala: “E o rei Salomão?” Foi preciso a professora fazer uma conferência sobre o assunto; e ele não saiu convencido. Dizia: “Só vendo.”
E em certas ocasiões, depois de lhe mostrarem tudo o que queria ver, ainda duvidava. “Talvez eu não tenha visto direito. Eles sempre atrapalham.” (Eles eram os adultos.)
Edmundo foi aluno muito difícil. Até os colegas perdiam a paciência com as suas dúvidas. Alguém devia ter tentado enganá-lo, um dia, para que ele assim desconfiasse de tudo e de todos.
Mas de si, não; pois foi a primeira pessoa que me disse estar a ponto de inventar o moto contínuo, invenção que naquele tempo andava muito em moda, mais ou menos como, hoje, as aventuras espaciais.
Edmundo estava sempre em guarda contra os adultos: eram os nossos permanentes adversários.
Só diziam mentiras. Tinham a força ao seu dispor (representada por várias formas de agressão, da palmada ao quarto escuro, passando por várias etapas muito variadas).
Edmundo reconhecia a sua inutilidade de lutar; mas tinha o brio de não se deixar vencer facilmente.
Numa festa de aniversário, apareceu, entre números de piano e canto (ah! delícias dos saraus de outrora!), apareceu um mágico com a sua cartola, o seu lenço, bigodes retorcidos e flor na lapela.
Nenhum de nós se importaria muito com a verdade: era tão engraçado ver saírem cinquenta fitas de dentro de uma só… e o copo d’água ficar cheio de vinho…
Edmundo resistiu um pouco. Depois, achou que todos estávamos ficando bobos demais.
Disse: “Eu não acredito!” Foi mexer no arsenal do mágico e não pudemos ver mais as moedas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro, nem da cartola vazia debandar um pombo voando…
(Edmundo estragava tudo. Edmundo não admitia a mentira. Edmundo morreu cedo. E quem sabe, meu Deus, com que verdades?)
O que podemos aprender com o Conto “Edmundo, o Céptico” de Cecília Meireles?
Você conhece alguém cética como o Edmundo? Com certeza já nos deparamos com situações semelhantes ao contado por Cecília Meireles no seu conto.
O ceticismo é algo que devemos enxergar com calma e não jugar demais as pessoas com esse tipo de comportamento e visão de mundo.
Uma das lições que podemos tirar do conto é se realmente é vantajoso buscar tanto a verificação das verdades da vida.
Será que não se conformar com algumas respostas prontas é o suficiente para viver em paz? Será que a busca da verificação de algumas verdades é necessária para viver bem?
O autoritarismo que impor verdades
São vários os leitores e até mesmo pesquisadores que olham para o conto Edmundo, o Céptico de Cecília Meireles como um alertar para o autoritarismo da verdade.
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Como o próprio Edmundo no conto, são várias as pessoas que reconhecem a dificuldades de lutar e se cansam da luta de ideias.
Será que Cecília Meireles está sendo um porta-voz para seus leitores em relação ao autoritarismo e o ceticismo de alguns veículos de comunicação sobre notícias?
A escritora é famosa em retratar o tempo, imagens da sociedade e um turbilhão de desordem do mundo que nos mantêm sem esperança.
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Você é um Edmundo nesse mundo caótico?
Apesar de certa parte da população enxergar o ceticismo como um veneno para um convívio saudável em sociedade, outros acham diferente.
O personagem Edmundo no conto de Cecília Meireles nos mostra uma pessoa extremamente obcecada com verificar fatos e verdades.
Além disso, a cronista nos faz refletir sobre outros pontos do comportamento humano na sociedade, como:
- Observar o cotidiano com um olhar estranho;
- A capacidade das pessoas de julgar;
- Os movimentos e mudanças que o mundo faz;
- Alertar sobre o estabelecido, o sólido e o corriqueiro da vida.
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Será que você se identifica com Edmundo e se considera um buscador da verdade e sentido da vida?
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Você gostou de saber mais sobre esse extraordinário conto de Cecília Meireles para entender sobre ceticismo e a verificação da verdade? Então não perca mais tempo e compartilhe com os seus amigos e familiares essas excelentes palavras de reflexão.
Redator Web desde 2017, um leitor voraz e apaixonado por livros de ficção histórica.
