Dieta sem carboidrato faz mal para o cérebro? Neurocientista explica

Atenção: dieta low carb não significa dieta sem carboidrato.

“Se uma pessoa manter uma dieta sem carboidrato, seu cérebro será prejudicado?”

Sim. Resumidamente, a resposta é sim.

Porém, as dietas popularmente conhecidas como “sem carboidrato” ou “low carb” não excluem o consumo desse tipo de alimento. Na verdade, como o nome em inglês indica, é um tipo de dieta com baixa quantidade de carboidrato.

Então, a pergunta inicial deste texto deveria ser outra:

“Se uma pessoa manter uma dieta low carb, seu cérebro será prejudicado?”

Agora a resposta é um pouco mais complexa — mas tudo indica que não, se feita do jeito certo.

Primeiro, entre todos os aspectos de estilo de vida, a alimentação é talvez a mais importante para manter boa saúde mental.

De acordo com Lisa Mosconi, neurocientista e diretora associada na Clínica de Prevenção de Alzheimer na Weill Cornell Medical College, as últimas pesquisas mostram que seguir uma dieta saudável é poderoso para prevenir o envelhecimento do cérebro e a demência. No entanto, existe muita controvérsia no que é uma dieta saudável.

O que é uma dieta saudável para o cérebro?

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Comer bem para o cérebro funcionar bem. Crédito: Trang Doan | Pexels

Dependendo de onde você obtém informação, descobrirá que ovos fazem bem um dia e fazem mal no dia seguinte; o sódio é responsável pela hipertensão arterial até que não seja; carboidratos e gorduras se revezam, deixando-o acima do peso e doente ou cheio de energia e saudável.

É muita confusão, certo?

Em 2018, todo mundo está trocando carboidratos por gordura. Se você gosta de ler sobre dieta e nutrição em blogs e revistas, provavelmente está ciente da aversão ao glúten.

Hoje, um em cada três americanos evita o glúten — eliminando grãos e cereais da dieta. O objetivo é perder peso, aumentar a energia ou até mesmo tratar condições médicas como artrite, asma, e agora: demência.

Não tenha medo do glúten quando o assunto é saúde do cérebro.

Mosconi tem uma resposta direta quando questionada se o glúten é ruim para o cérebro: não tenha medo do glúten.

Segundo a ciência revisada por pares, não há conclusão de conexão entre o consumo de glúten e o declínio cognitivo.

Vale destacar que, de fato, o 1% da população que sofre de doença celíaca deve continuar a evitar o glúten. Os 6% das pessoas que podem ter sensibilidades ao glúten também deve ter cuidado. Mas para os outros 93%, uma dieta sem glúten não é apenas desnecessária, como pode fazer mal.

Por que eliminar grãos pode fazer mais mal do que bem?

Em primeiro lugar, a caça às bruxas contra o glúten levou muitas pessoas a fazer dietas com pouco carboidrato.

Como a fibra vem principalmente de grãos (além de legumes e verduras), as dietas baixas em carboidratos também podem ser extremamente baixas em fibra. Entre os cientistas, há um forte consenso de que uma dieta rica em carboidratos e fibras é crucial para a saúde do cérebro e a prevenção de Alzheimer.

E enquanto não há nada ainda provado sobre como o glúten pode causar demência, existem estudos conclusivos demonstrando que a ausência de fibra pode prejudicar nossos cérebros. As deficiências de fibras prejudicam nossas entranhas e, portanto, a população de bactérias amigas nessas entranhas (o microbioma).

Dada a conexão estabelecida entre a saúde intestinal e a saúde do cérebro — um tópico próprio –, uma dieta pobre em fibras pode causar efeitos negativos a longo prazo no cérebro, causando nevoeiro cerebral, confusão e até depressão e ansiedade.

Olhando para os centenários em busca de pistas sobre carboidratos e longevidade.

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E o pãozinho? Crédito: Pixabay | Pexels

Um grande corpo de literatura sobre centenários (aqueles que têm 100 anos ou mais) mostra que eles freqüentemente seguem dietas ricas em carboidratos, aponta Mosconi. Esse é um forte indício de que a relação entre carboidratos e fibras ​​e a longevidade é benéfica.

Quando estudamos as dietas centenárias em detalhes, notamos que mais de 80% das calorias em sua dieta provêm de vegetais, frutas, legumes e carboidratos complexos, como grãos integrais, arroz integral, aveia e batata-doce. Esses alimentos são embalados com nutrientes de apoio ao cérebro — de vitaminas do complexo B a uma abundância de antioxidantes e minerais.

Eles também são uma boa fonte de glicose, a principal fonte de energia para o cérebro. Combinado com alto teor de fibra para estabilizar os níveis de açúcar no sangue, estes alimentos melhoram o seu metabolismo e suportam a digestão saudável.

A dieta mediterrânea é ótima para o cérebro — e cheia de carboidratos saudáveis.

A dieta mediterrânea é uma dieta inequivocamente rica em carboidratos rica em vegetais, frutas, cereais integrais e leguminosas.

A literatura científica mostra que as pessoas que seguem de perto uma dieta mediterrânea têm menos probabilidade de desenvolver doenças como diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares. Além disso, reduzem o risco de comprometimento cognitivo e doença de Alzheimer graças aos efeitos benéficos da dieta sobre o cérebro.

No final, a eliminação do glúten e outros grãos da dieta pode comprometer a ingestão adequada de fibras, carboidratos saudáveis ​​e outros nutrientes essenciais ao cérebro. Os alimentos integrais orgânicos devem ser um componente importante da dieta, especialmente para qualquer pessoa razoavelmente preocupada em prevenir doenças neurológicas.

Seu guia para uma dieta com carboidratos saudáveis.

Uma dieta saudável, segundo a neurocientista, segue três regras quanto ao consumo de carboidratos:

  1. Legumes e frutas são “carbos”, e legumes devem compor metade do seu prato em qualquer refeição.
  2. Grãos integrais estão dentro; grãos refinados estão fora (farinha branca, massa branca e pão branco) — especialmente aqueles industrializados.
  3. Uma porção geralmente correta é uma fatia de pão ou 1 xícara de grãos cozidos ou massa por refeição.

Se você tem doença celíaca ou é sensível ao glúten, concentre-se em grãos sem glúten como arroz, amaranto e quinoa.

Finalmente, Mosconi conclui:

“Como sociedade, talvez pudéssemos gastar menos tempo procurando descobrir o que há de errado com qualquer nutriente isolado (como o glúten) e investir mais tempo e recursos para melhorar as dietas gerais das pessoas. Isso significa fornecer às pessoas acesso a alimentos reais e saudáveis, informações rigorosamente revisadas para entender o que são e diversas receitas para trazê-las à vida.”

Pense duas vezes antes de “cortar carbo” ou seguir “dieta sem carboidrato”

Alimentação é coisa séria. Como você viu, a dieta low carb não significa eliminar o consumo de carboidrato.

Informe-se. Procure saber o que a ciência tem descoberto sobre o impacto de cada dieta no corpo humano.

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Confira também o livro da neurocientista Lisa Mosconi: Brain Food – The Surprising Science of Eating for Cognitive Power.

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