Embora tenha sido lançado há dezesseis anos atrás, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças permanece sendo um filme altamente referenciado na cultura pop. Grande parte desse sucesso atemporal, se deve à sua excelente abordagem temática, famosa por mesclar a relação entre memória e amor romântico.
O longa protagonizado por Jim Carrey e Kate Winslet é aberto à uma multiplicidade de interpretações. Contudo, basicamente, ele narra a história de um casal que, após passar por umas crises, decide se separar. No entanto, como forma de lidar com o término, ambos resolvem apagar todas as lembranças do relacionamento que tiveram.
Embora esse pareça um excelente enredo para uma obra ficcional, essa história pode estar mais próxima da nossa realidade do que você imagina. De acordo com uma reportagem da BBC, um pesquisador de Montreal, no Canadá, está desenvolvendo uma abordagem terapêutica que pode ajudar a eliminar o sofrimento causado por um término traumático.
A vida imita a arte?
Já faz mais de 15 anos que Alain Brunet, Professor de Psiquiatria na Universidade McGill, vem estudando o transtorno de estresse pós-traumático. Apesar de inicialmente ter trabalhado com veteranos de guerra e pessoas vítimas de crimes e ataques terroristas, hoje sua pesquisa envolve outros tipos de traumas.
Em 2015, Brunet voltou sua pesquisa para os corações partidos. Em parceria com Michelle Lonergan, ele decidiu focar em términos de relacionamentos complicados, afinal, eles também podem ser extremamente dolorosos. Só para ilustrar, o pesquisador afirmou que durante um término difícil as pessoas podem sentir reações emocionais semelhantes às observadas em sobreviventes de traumas.
Apesar de ser frequentemente comparada ao filme estrelado por Carrey e Winslet, a terapia de Brunet não apaga as memórias ruins. Na verdade, ela simplesmente ajuda o paciente a lidar com essas lembranças de uma forma não dolorosa.
Mais detalhes sobre a Terapia de Reconsolidação
A Terapia de Reconsolidação é uma abordagem inovadora que pode ajudar a acabar com a dor emocional de uma memória traumática. No centro desse tratamento encontramos o propranolol, um betabloqueador conhecido no tratamento contra hipertensão e enxaqueca. Contudo, nesse contexto, sua aplicação é mais abrangente.
Em suma, no método de reconsolidação, o paciente toma o propranolol cerca de uma hora antes da sessão de terapia. Em seguida, o indivíduo é orientado a escrever um relato detalhado sobre seu trauma e, posteriormente, a lê-lo em voz alta. O objetivo desse processo é criar uma janela de acesso para a parte mais emotiva dessa memória.
Enquanto as memórias são salvas no hipocampo, o aspecto emocional delas é armazenado na amígdala. Então, quando uma pessoa relembra de algo traumático, ela acaba usando esses dois canais. Todavia, o propranolol inibi o funcionamento da amígdala, suprimindo a dor associada à essa memória. Logo, você continua lembrando o que aconteceu, só não sente mais a dor da separação.
Como resultado da junção de propranolol e terapia, após cinco sessões, os pacientes testados leram os textos escritos no início do tratamento. Surpreendentemente, eles tiveram a “impressão de que [o texto] poderia ter sido escrito por outra pessoa”.
Embora esse tratamento ainda esteja em fase de desenvolvimento, Brunet espera que a terapia de reconsolidação possa ser expandida. O objetivo do psiquiatra é usá-la no tratamento de fobias, dependência e luto, “qualquer tipo de sofrimento que emane de um evento emocional”, disse ele.
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Fontes: BBC
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